As recentes baixas do mercado foram provocadas por fatores macroeconômicos temporários, pela inesperada turbulência de mercado em 11 de outubro e pela forte competição por capital entre as bolsas dos EUA, Coreia do Sul e China. No longo prazo, os cortes de juros cautelosos e moderados do Federal Reserve, junto com as injeções de liquidez igualmente contidas, não conseguiram gerar força compradora suficiente para equilibrar a pressão vendedora vinda do fluxo constante de novas emissões de criptoativos e desbloqueios de tokens. Esse cenário expande a capitalização total do mercado cripto, mas a maioria dos tokens perde valor, mantendo investidores do mercado secundário em tendência de baixa.
No curto prazo, fique atento ao momento de reabertura do governo dos EUA e ao término da redução do balanço do Federal Reserve (1 de dezembro, UTC). No horizonte de longo prazo, monitore o ritmo dos cortes de juros e a disputa por capital entre cripto e outros mercados de ativos de risco.
Os ciclos globais de liquidez influenciam diretamente os principais ativos de risco. A comparação entre a capitalização total do mercado cripto e a do mercado acionário dos EUA revela uma correlação de longo prazo bastante significativa nos movimentos de alta e baixa.
O gráfico abaixo mostra o último ano:
Linha vermelha: capitalização total do mercado cripto
Linha verde: capitalização do mercado de altcoins, sem BTC e ETH
Linha azul: evolução do índice S&P 500

2024.11-2025.11 Total, Total3 & SPX
Fonte: TradingView
Principais pontos:
O crescimento da capitalização total do mercado cripto não garante retorno ao investidor. Ao longo do último ano, o lançamento de novos criptoativos e desbloqueios recordes de tokens—especialmente de projetos surgidos no ciclo 2021–2023 em blockchains públicas, DeFi e IA—geraram pressão vendedora contínua. Segundo a Tokenmist, cerca de US$ 30 bilhões em novos desbloqueios de tokens foram registrados nos últimos três meses.

Aprox. US$ 30 bilhões em desbloqueios de tokens nos últimos três meses
Fonte: Tokenmist
Em resumo: Os cortes de juros e as injeções de liquidez do Federal Reserve, ambos moderados, não conseguiram criar força compradora suficiente para neutralizar as vendas provocadas pelas novas emissões e desbloqueios de criptoativos. Isso se traduz em elevação da capitalização total do mercado cripto, mas queda nos preços individuais dos tokens, mantendo o cenário de baixa para investidores do mercado secundário.
Na perspectiva de longo prazo, a conjuntura é historicamente favorável tanto do ponto de vista monetário quanto fiscal. No curto prazo, entretanto, o fechamento do governo dos EUA e o acúmulo de recursos no Treasury General Account (Conta Geral do Tesouro, TGA) sem saídas criaram barreiras à liquidez do governo, enquanto a lentidão nos cortes de juros do Fed impôs restrições monetárias. As tensões entre EUA e China continuam a restringir o apetite global por risco e a influenciar o mercado.
O TGA, ou Treasury General Account (Conta Geral do Tesouro), é a conta bancária do Tesouro americano onde ficam os recursos provenientes da emissão de títulos e da arrecadação de impostos, destinados ao pagamento de despesas fiscais como folha de pagamento ou infraestrutura. Quando o saldo do TGA aumenta, os fundos ficam retidos e não circulam na economia, apertando a liquidez de curto prazo. O recente fechamento do governo intensificou esse efeito.
O impasse prolongado no Congresso sobre o orçamento e o fechamento recorde do governo provocaram entradas de recursos fiscais sem saídas, drenando a liquidez temporariamente. Em 29 de outubro de 2025 (UTC), o saldo do TGA atingiu US$ 957,8 bilhões, e em 4 de novembro, o governo americano leiloou mais US$ 274 bilhões em dívida de curto prazo.

Saldo do TGA atinge máxima anual
Fonte: FRED
Apesar do ciclo de cortes de juros do Fed, o ritmo é bem inferior ao projetado pelos mercados, mantendo taxas reais elevadas. O presidente do Fed, Powell, recentemente evitou assumir compromisso com corte de juros em dezembro na reunião do FOMC, minando ainda mais a confiança do mercado. Essa postura cautelosa indica preocupação com possível recessão.

Taxas permanecem em patamar historicamente alto
Fonte: FRED
Medidas recentes—como restrições da China à exportação de terras raras e novas tarifas dos EUA—ampliaram a aversão ao risco. O índice do dólar e o índice de volatilidade das ações subiram, mostrando maior cautela global.

Índice do dólar sobe de forma contínua
Fonte: TradingView

Volatilidade das ações dos EUA dispara
Fonte: TradingView
Mercados de alta são frequentemente comparados a 2021. Naquela época, a expansão quantitativa intensa gerou uma onda de liquidez, mas a queda abrupta do EPS causada pela pandemia (lucros corporativos despencaram, tornando ações pouco atrativas para traders) direcionou o excesso de capital ao cripto, provocando uma alta histórica. Em apenas um ano, a capitalização total do mercado cripto saltou de US$ 300 bilhões para mais de US$ 3 trilhões, com altcoins superando o BTC e inúmeros tokens de pequeno valor multiplicando cem vezes.

2020.11-2021.11 Total, Total3 & SPX
Fonte: TradingView
Atualmente, os principais mercados acionários—EUA, China e Coreia do Sul—estão em alta. As ações dos EUA batem recordes impulsionadas pela IA; as ações classe A chinesas superaram os 4 000 pontos, beneficiadas por políticas favoráveis e renovação de liquidez; e a Coreia do Sul, favorecida pela retomada das exportações de semicondutores, viu o índice KOSPI subir quase 70 % no acumulado do ano, tornando-se o destaque de 2025.
Os investidores direcionam cada vez mais capital de risco para ativos com maior previsibilidade, drenando liquidez do cripto.

Ganhos anuais das bolsas: Coreia do Sul, EUA, China
Fonte: TradingView
Se as bolsas globais mantiverem a tendência de alta e o Federal Reserve continuar com liquidez favorável, o cripto tende a permanecer “marginalizado”—com capitalização total do mercado cripto em crescimento, mas preços dos tokens pressionados por novas emissões constantes. No curto prazo, acompanhe a reabertura do governo dos EUA e o encerramento da redução do balanço do Federal Reserve em 1 de dezembro (UTC), que podem sinalizar melhorias na liquidez.





